As cartas de Maria Nikolaevna Romanov ao czar Nicolau II

Quando Nicolau foi pessoalmente participar da organização e do comando das tropas russas enviadas aos campos de batalha durante a I Guerra Mundial, a saudade que as filhas do czar sentiram foi tremenda. Naquela época, a forma mais comum de manter contato com amigos e parentes que se encontravam distantes era através de cartas.
Abaixo você confere a tradução de alguns trechos de cartas escritas por Maria Nikolaevna Romanov, no auge dos seus 15 anos de idade, para o seu amado pai, Nicolau II. É interessante notar que a correspondência entre eles retratava, basicamente, a rotina dos Romanov no Palácio Alexandre, indo de brincadeiras entre as crianças a simples comentários sobre uma rotina, por vezes, enfadonha.

8 de março de 1914

Foi divertido tomar banho em sua banheira. Eu brinquei como se eu fosse um cãozinho pug e, é claro, usei a sua toalete. A experiência não foi tão confortável e foi bastante frio, visto que a torneira estava aberta e eu nem sequer notei. A água chegava até os meus ombros (não falo da água da toalete, mas da banheira). Mamãe e Tatiana estão jogando “halma” [um jogo de tabuleiro]. A janela no quarto está aberta e há uma passagem de ar que nos permite ouvir o [Obednya] Gulyga falando.

20 de setembro de 1914

Agora eu te escrevo do meu banheiro. Liza está penteando os meus cabelos e Tatiana está se lavando detrás das cortinas…

23 de setembro de 1914

Anya (Vyrubova) jantou conosco e agora está deitada no sofá, ao lado da mamãe. A mamãe acabou de receber uma carta sua e está muito feliz…

31 de outubro de 1914

Vou ter uma aula de inglês agora. Que saco!

19 de novembro de 1914

São duas da tarde agora. A mamãe está deitada no sofá enquanto escreve uma carta para você e a Anastásia está escrevendo para a tia Olga…. Eu sempre sento na sua poltrona na hora do chá… Alexei foi descansar no andar de cima após o café… Eu estou feliz por não termos aulas na sexta-feira por conta do feriado. É tão divertido…

2 de dezembro de 1914

Pyotr Vasilevich está lendo Turguenev para mim e para Anastásia…

12 de janeiro de 1915

Agora estou sentada na escrivaninha da mamãe e escrevendo com uma caneta péssima. Minhas irmãs estão no hospital, mas logo terei que estar presente na cerimônia que vai ocorrer na sala-de-estar da mamãe…

24 de janeiro de 1915

Alexei está deitado na sala de jogos. A mamãe acabou de chegar no quarto dele e eles estão brincando…

27 de janeiro de 1915

Alexei acabou de voltar de uma caminhada. Ele foi levado para cima com o auxílio de um trenó por uma mera questão de comodidade. Foi algo que me pareceu terrivelmente bobo…

6 de março de 1915

Estou te escrevendo na manhã, antes das 9. Anastásia está fazendo o dever de casa dela. Ortino [o cãozinho] esteve aqui agorinha mas já saiu correndo pelo corredor atrás de Tatiana.

8 de abril de 1915

Agora estou sentada perto da cama da mamãe, onde ela se encontra deitada. Olga e Tatiana estão lendo. Alexei quis dormir na sua cama hoje e falou para a mamãe que queria fingir ser o esposo dela. Ontem ele comeu muitas torradas e de noite ele foi mandado direto pro Derevenko [o marinheiro que cuidava de Alexei nas atividades ao ar livre]. Depois do jantar, mamãe e eu jogamos “Colorito” [um jogo de tabuleiro]. Agora ela está lendo um livro em inglês…

18 de abril de 1915

Acabamos de jantar. Alexei veio até os aposentos da mamãe para rezar. As minhas irmãs estão separando as flores que os Yanovs mandaram diretamente da Livadia. A mamãe está tentando fazer Anastásia ir se deitar mas ela está desesperadamente tentando achar o Shvybzik [cãozinho] que desapareceu. Todos ficamos chamando por ele mas ele não aparecia. O encontramos 10 minutos depois. Todas nós pensávamos que ele estava debaixo do sofá. A mamãe começou a imitar latidos e ele respondeu. Ele estava escondido debaixo do sofá da mamãe e todas tivemos um trabalhão para tirá-lo de lá. Eu continuarei a escrever de manhã, lá pelas 8h.
Acabei de abrir a cortina e fiquei feliz de ver que faziam 18 graus. Alexei veio para o nosso quarto e agora está deitado na minha cama enquanto brinca com Anastasia e Shvybzik. As minhas irmãs ainda estão dormindo e o Shvybzik está grunhindo. Eu acho que ele quer ver a governanta [Tatiana]. Ele já tinha feito isso antes e a Anastásia o tangeu com uma pazinha.

19 de junho de 1915

Alexei vai todo dia na lagoa para pescar com a sua varinha. Ontem o meu Kolya [Nickolai Dmitrievich, soldado pelo qual Maria se apaixonou] e Sapozhnikov estavam de serviço. Anastásia e eu gentilmente conversamos com eles através da janela. Hoje, Olga e eu nos sentamos no parapeito da janela sob a varanda e ficamos assistindo os soldados jogarem damas.

30 de agosto de 1915

Nós quadro estamos deitadas nas poltronas com as pernas nas cadeiras. Olga está tricotando meias. Anastásia está organizando cartas antigas; Tatiana está lendo poesia. Estávamos todas cumprindo obrigações durante a manhã. Tomamos café com Sonya lá na varanda. De tarde fomos passear de carro e visitamos o cemitério. Uma igrejinha está sendo construída nele…

3 de setembro de 1915

Agora estamos tomando chá. Fizemos uma boa caminhada. N. D. estava de serviço e conversamos alegremente através da janela que estava aberta. Ficamos a falar e nos deixamos levar pela conversa, sabe? Assim que chegamos no topo da escadaria, Olga pegou o guarda-chuva dela e deu com ele em uma das janelas, tendo ela quebrado três vidros e eu, um outro. Anastásia fez a mesma coisa… Agora a Olga está lendo um jornal e a mamãe está conversando com a Anya…

19 de setembro de 1915

Agora sempre jantamos na sala de jogos. É muito aconchegante, eu acho. Depois do jantar, mamãe, Alexei, eu e Vladimir Nickolayevich ou o Senhor Gilliard costumamos jogar algo que chamamos de “Quanto mais devagar, mais rápido você chegará ao seu destino”. É divertido pois você pode “devorar” os outros. Brincamos disso ano passado, em nosso hospital…

31 de outubro de 1915

Te escrevo do meu quarto. Acabamos de tomar chá. Minhas irmãs ainda estão com a mamãe. De manhã tivemos aula e de tarde fomos passear com Nastenka Hendrikova. Eu estive em nosso hospital com a Anastásia e ela tirou algumas fotos dos soldados feridos. Uma mulher inglesa jantou conosco dia desses. Ela veio a Petrogrado para construir um hospital inglês na casa do Dmitry.

5 de novembro de 1915

Eu só vejo o Nickolai Dmitrievich quando vou à igreja. Agora estou sentada em meu quarto. Liza está acendendo as lâmpadas e Olga está escrevendo algo na sala ao lado. O quarto dela ficou muito confortável quando colocaram um sofá lá… Eu acho que vamos para a casa da Anya hoje de noite. Gregori [Rasputin] também estará lá. Passamos a noite inteira no andar de cima por causa da Olga e também tomamos chá lá. A Olga está chorando porque quase virou o tinteiro dela, manchando os seus dedos de tinta, e agora ela não quer mais escrever…

Fonte: http://www.alexanderpalace.org
Tradução: Ethereal History

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